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Escaroupim e Palhota – Histórias de Avieiros no Tejo

Escaroupim e Palhota – Histórias de Avieiros no Tejo

Escaroupim e Aldeia da Palhota - Avieiros do Tejo - Rio Tejo - Ao Longo de um Rio de Encanto - almadeaventureiros 008

Dona Maria Carolina - Avieira de alma e coração

Tejo acima, continuo em busca de mais recantos de encanto, escondidos e perdidos nos tempos. Procuro histórias de pessoas, lugares e culturas ligadas ao rio. Venho à procura da cultura e o modo de vida dos avieiros do Tejo.

 

Nunca obtive tanto prazer em documentar algo como agora. Percorro este rio, outrora eximiamente descrito, por Almeida Garret, em Viagens na Minha Terra e, Alves Redol, no seu livro, Avieiros; ilustres escritores, que tanto fizeram para documentar toda a envolvência de um Tejo riquíssimo, que encerra os mais inúmeros e singulares tesouros, à espera de serem descobertos.

 

Crê-se que, em meados do século XIX, fosse em carroças ou em barcos, algumas famílias de pescadores de Vieira de Leiria, começaram-se a dirigir para o Tejo. Os rigores do mar, por alturas do inverno, não lhes permitiam arriscar a pesca, pelo que, sazonalmente, foi no Rio Tejo que encontraram a sua forma de sustento.

Inicialmente, toda a sua vida, era feita inteiramente no interior das suas pequenas embarcações. Com o passar dos anos, foram ficando e acabaram por se fixar ao longo das margens, onde construíam barracas de madeira, cobertas com caniços e assentes em palafitas, que os protegiam das cheias do rio.

Os outrora pescadores marítimos de Vieira de Leiria, tornaram-se assim, em Avieiros do Tejo; hábeis pescadores fluviais, que adaptaram técnicas, embarcações e artes, a um rio, então repleto de peixe.  

 

Chego à aldeia de Escaroupim.

Uma pequena e recuperada aldeia ribeirinha, onde para além de um museu interpretativo e uma loja de artesanato, ainda  aqui habitam pessoas ligadas ao rio e à cultura avieira.

Por aqui, ainda se podem observar algumas das antigas casas assentes em pilares (agora de cimento), o seu cais, esse sim, ainda exclusivamente assente em palafitas de madeira. Outra particularidade, é o facto de nos podermos deliciar-se com alguns pratos do rio e outras especialidades locais e desfrutar de um magnifico cruzeiro no Tejo, com partida do Cais Palafítico que nos leva a conhecer a fauna e a flora, bem como a hidrografia do rio e a história local.

Em frente, na Ilha das Garças, a melodia proveniente dos cânticos estridentes das suas milhares de aves, não deixa sinais para dúvidas, quanto à escolha do nome daquela ilha do Tejo!

Em conversa com um pescador local, também ele Avieiro, diz-me que se quero conhecer bem as gentes locais e a sua cultura, que o melhor é atravessar o rio em direcção da Aldeia da Palhota, ali na outra margem, um pouco mais a jusante!

Bem, eu tinha planeado percorrer primeiro, toda a margem a sul até às Portas de Rodão, mas com a curiosidade aguçada, lá acabei por atravessar o Tejo, em busca daquela aldeia!

 

Chegar à Aldeia da Palhota, é uma experiência inesquecível assim como se tivesse entrado para o interior de uma moldura; um verdadeiro quadro vivo, carregado de cores, cultura e tradição, onde ainda se respira o passado e o presente de um povo muito peculiar, destas tão singulares aldeias ribeirinhas.

 

Foi aqui que conheci a Senhora Dona Maria Carolina.

Depois de lhe apresentar o propósito da minha visita, disponibilizou-se de imediato a mostrar a sua aldeia … sim, porque creio que a Dona Carolina, para além dos seus 79 anos, repletos de vivências, é seguramente, uma figura central da Palhota!

Convida-me a entrar na antiga casa dos seus pais, lugar aliás, onde nasceu. Com orgulho, explica-me – “Olhe, eu gostava de estar vestida em condições … sabe, vestida mesmo à Avieira!”.

Conta-me que aquele piso térreo, inicialmente só para arrumações, foi escavado pelo seu Pai, para o tornar mais fundo e assim, ali puderem acrescentar mais uma habitação, abrigada do calor.

As prateleiras, encontram-se decoradas com miniaturas representativas das casas dos avieiros, mas é num pequeno barco, que revela o seu maior carinho; aquele que representa as memórias da sua infância. Descreve-me o tempo em que ia para o rio com os pais, numa pequena Bateira que, mais do que a pesca, lhes servia como habitação. Muitas eram as vezes em que acabavam por permanecer a bordo, à espera da maré do dia seguinte, e era ali que dormiam e também cozinhavam, num tempo em que percorriam um Tejo, amplamente navegável. Umas vezes à vela, outras com recurso aos remos, conciliavam diversas artes e técnicas, muitas com redes, para pescar o que o rio oferecia: Lampreias, Enguias, Fataça, o Sável …  

 

Percorremos a pequena aldeia. Ali, quase todos são familiares da Dona Carolina. Revela-me que tudo tem feito, quase casa a casa, sem ajudas de qualquer entidade, para recuperar aquele lugar que a viu nascer.

 

A aldeia da Palhota, é um lugar vivo, com pessoas, com cultura e tradições. Modos de vida vividos de forma apaixonada, que merecem ser conhecidos, mas sobretudo, reconhecidos, enaltecidos e preservados.

Modos de vida, que não se querem extintos, num rio que anos após ano, leva menos água, mais assoreado, esquecido e cada vez mais difícil de navegar.

 

Aldeia da Palhota – Histórias de Avieiros no Tejo.

 

🕵️‍♂️ Dicas de aventureiro:

Para quem quiser conhecer mais sobre a cultura avieira, aconselho a assistirem à peregrinação da Nossa Senhora dos Avieiros e do Tejo, que se realiza todos os anos, entre 30 de Maio e 14 de Junho; em várias etapas, com inicio nas Portas de Rodão e passando por antigas aldeias avieiras.

Uma outra forma, é através da subida do Tejo, num dos seus barcos tradicionais, nos quais, para além da visita às aldeias avieiras, poderá ainda desfrutar da fauna e flora envolvente e de um almoço, num dos diversos restaurantes à beira rio.

🕍 O que visitar:

Porto das Mulheres; Azinhaga; Patacão; Barreiras da Bica; Caneiras; Faias; Escaroupim; Palhota; Porto da Palha; Avieiros de Vila Franca de Xira e Póvoa de Santa Iria.

🕍 Como visitar:

Existem diversas empresas, dedicadas a esta temática, das quais destaco aquela que experimentámos:

PROMATUR

Por fim, e uma outra forma de percorrer o Tejo, pegue na mochila às costas e desfrute dos inúmeros trilhos ou aventure-se como nós, no comboio regional da CP, que segue praticamente o curso do Tejo, ao Longo de vários quilómetros, sendo possível percorrer diversas aldeias e vilas.

 

Este artigo, faz parte da série de crónicas “Ao Longo do Tejo“. Próxima paragem: Praia do Alamal.

 


⇐ Crónica anterior.

Praia Doce – Salvaterra de Magos

Próxima crónica ⇒

Praia do Alamal – Um Tesouro Escondido no Tejo


 

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