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De Setúbal a Ouvidor – Pérolas do Sado

De Setúbal a Ouvidor – Pérolas do Sado

¦ De Setúbal a Ouvidor – Pérolas do Sado ¦

 

Quando imaginamos uma rota de estrada ou as tão vulgarmente conhecidas como Roadtrip, creio que nos ocorre uma enorme rota com muitas paragens, até um qualquer destino longínquo.

Bem, na realidade, posso dizer que já temos no nosso palmarés uma boa quantidade de quilómetros percorridos na estrada um pouco por esse mundo fora e esta era a nossa ideia um pouco concebida de rotas de estrada.

Mas na verdade, uma boa rota de estrada não tem forçosamente que ser longa ou para um distante destino.

Foi precisamente isso que, de forma não programada, acabámos por descobrir.

Quantas vezes já vos aconteceu, ao longo do percurso de um determinado destino, depararem-se com outros caminhos, ficando a pensar o que haveria ali? O que estaria por descobrir se tivessem optado por sair naquela estrada? Ou aquele pensamento … onde será que irá dar?!

Pois desta vez, foi o que fizemos. Saímos naquela estrada … naquele caminho menos percorrido, pois por vezes, creio que temos que perder tempo, para nos darmos tempo.

Foi com a vista proporcionada pelo Castelo de Palmela​ sobre uma das mais belas baías de Portugal, que partimos ao redor da Reserva Natural do Estuário do Sado para este pequeno percurso, que tem tanto de simples como de belo.

Pelo caminho, descobrimos o Moinho da Mourisca, a Herdade da Gâmbia, o Pontal dos Musgos, o Monte Novo da Palma e por fim,  um lugar muito escondido.

Já por diversas vezes que havíamos feito o percurso de Setúbal até Tróia, contornando todo o estuário, incluindo o Cais Palafítico da Carrasqueira como já anteriormente divulgámos; mas nunca antes como neste fim-fim-de-semana.

Começámos logo à Saída de Setúbal na estrada nacional por virar para o Moinho de Maré da Mourisca (devidamente bem sinalizado), o qual e depois de completamente restaurado, se encontra a ser explorado pelo Instituto de Conservação da Natureza. Por ali, para além da visita ao antigo moinho e respectiva história, pode usufruir de uma grande área de lazer, percursos pedonais para observação de aves, as antigas salinas e passeios de barco pelo estuário.

No moinho, dispõe ainda de uma boa esplanada e no seu interior, um bar simpático que antecede a passagem para uma sala, convidativa a um chá da tarde, na qual nesta altura de frio, se pode aquecer com uma excelente lareira.

Um local que, no seu conjunto, tornam uma manhã ou uma tarde, no mais aprazível que se possa imaginar.

De volta à estrada e com a tarde já longa, virámos em direcção à Aldeia da Gâmbia. Na rotunda e virando à direita em direcção à Herdade do mesmo nome, seguimos em frente até onde o asfalto termina. Ali, descendo para o estuário, virámos de novo à direita seguindo pela terra batida durante uns 2 quilómetros. Pelo caminho fomos encontrando alguns locais com bancos e churrasqueiras mas decidimos ir até se descobrir o final do caminho e … eu sei que sou suspeito porque tenho o bicho da aventura a correr-me nas veias e tento contagiar tudo e todos mas, o que descobrimos, foi algo de absolutamente fantástico! Uma pequena e muito escondida praia que dá pelo nome de Pontal dos Musgos.

Não é a praia da Comporta nem qualquer outra do Algarve. É uma praia muito simples, mas que de tão simples, tão natural, isolada e quase selvagem; a torna num sonho, numa pérola a ser estimada e preservada.

Dali, contempla-se a Arrábida e o seu Castelo de Palmela, o Moinho da Mourisca do outro lado e a grande surpresa no sapal; proporcionado pela sedimentação de nutrientes, a enorme área húmida e uma equilibrada salinidade, deparamo-nos com uma incontável colónia de Flamingos e Alfaiates.

Em silêncio, deixámos os nossos sentidos navegarem pelo sapal até ao anoitecer e por ali adormecemos com o som do silêncio interrompido de quando em vez com o saltitar de alguns peixes na água e de algumas aves.

De manhã, a Sofia optou por irmos tomar pequeno almoço à aldeia. Na Gâmbia a minha cara-mia sentiu-se como que na sua aldeia. Umas torradas e galões com direito a uma matraquilhada com o Hugo.

Antes de sairmos da Gâmbia, não podíamos deixar de visitar a sua herdade, bem com a respectiva loja de vinhos e os seus bem estimados animais.

Mais uma vez de volta à nacional 10 e antes de Alcácer, logo após passarmos a aldeia da Palma, virámos de novo à direita, rumo ao Monte Novo. Pelo caminho, uns 6 quilómetros de uma lindíssima estrada repleta de pastagens de gado ovino, bovino, suíno e uma rica flora composta por enormes sobreiros, sobrevoados por imponentes cegonhas brancas.

Passámos sobre a antiga linha e fomos terminar numa aldeia perdida no tempo … Monte Novo. Por ali, desde há cerca de 6 anos que a Refer deixou de servir as populações locais, numa antiga linha que seguia até ao Algarve. A sua população, maioritariamente idosos, assistem agora ao passar do comboio numa linha longínqua, que dizem e ao que lhes explicaram, ser mais rápida!?!

No local, em tempos, já existiu um café mas agora tivemos que nos deslocar até um lugar próximo, que em tempos, terá sido uma muito próspera Herdade; o muito peculiar e singular, lugar de Ouvidor..

Se fossemos de carro, seriam uns bons quilómetros, mas a pé e seguindo paralelamente à linha, são uns 500 metros.

Para trás, deixámos a velha estação.

Devo confessar que ao chegarmos a Ouvidor, a primeira sensação que senti foi a de uma pequena aldeia ou lugar incomparável a qualquer outro onde já tenhamos estado!

Com casas constituídas por uma espécie de meios tubos que, segundo nos feio explicado no café, o dono da Herdade há muitos anos atrás, terá trazido tal ideia do Brasil com o fim de servirem de palheiros. Contudo, volvidos alguns anos, vieram a acabar por serem convertidos em habitações para os seus antigos trabalhadores. Curiosamente, muitos dos habitantes do lugar, ainda ali vivem, mas já não são agricultores.

O final de tarde daquele Domingo, aproximava-se. Com ele, vinha o fim da nossa curta aventura que, apesar de pequena, nos transmitiu a sensação de dois dias plenos de descobertas.

 

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