As Mil Fontes de Vila Nova e as Deslumbrantes Cascatas Marítimas

As Mil Fontes de Vila Nova e as Deslumbrantes Cascatas Marítimas

cascatas-vila-nova-de-milfontes-praias-costa-vicentina-almadeaventureiros

cascatas-vila-nova-de-milfontes-praias-costa-vicentina-almadeaventureiros

Efémeras e deslumbrantes, as cascatas marítimas de Vila Nova de Mil fontes, bem como muitas outras espalhadas ao longo de uma boa parte do Parque Natural da Costa Vicentina, são um espetáculo imperdível e inesquecível!

 

Foi num dos mais improváveis fins-de semana do ano que, rumámos à estrada. O dia era de tempestade; sim, efectivamente, uma enorme tempestade, mas há já muitos meses que eu aguardava pelo momento e condições ideais, para que se desse este quase indescritível espectáculo da natureza.

O clima ideal, tardava em chegar, pois a seca, teimava em continuar.

A minha alma de aventureiro, tem-me revelado que é preciso ser paciente, pesquisar, procurar muito o local ideal e esperar, esperar e esperar … pelas condições ideais.

Foi assim que desafiei mais uma vez a família, apostado em lhes revelar um fenómeno que, confesso, nem mesmo eu sabia se iria acontecer, pois também para mim, seria a primeira vez.

Mas e convencê-los a sair com este tempo?! Não estava fácil. Lembrei-me que com o frio, a família gosta pela manhã, de umas belas torradas acabadinhas de fazer. Além disso, a Sofia iria querer o seu abatanado e o Hugo, o leite quente com cereais. Pois. E a caravana com o micro-ondas avariado!

Fez-se luz! Lembrei-me da tostadeira de fogão que havíamos comprado e para o café, contornei o problema com uma nova cafeteira e ainda a garantia de manter o aquecimento sempre ligado no máximo … será que os iria convencer?

Lançada a promessa de um bom pequeno-almoço e o mistério do que tinha para lhes mostrar, lá acabei por os convencer!

 

Eu sabia que a origem do nome Vila Nova de Mil Fontes, se deve ao facto de em tempos remotos, por ali existirem imensas fontes a céu aberto, sendo a origem geológica daquelas águas, devida ao facto da Vila se encontrar na foz do Rio Mira, com a sua nascente na Serra do Caldeirão e que aquele vai ganhando caudal com as águas que vêm das restantes serras de São Teotónio e Monchique. Então, parte dessas águas, acaba infiltrada no subsolo, brotando no Vale e dando assim origem a fontes.

Já o fenómeno das cascatas da costa é outra história! É do senso comum que a água dos rios, acaba no mar; contudo, raras são as vezes em que rios, no continente, terminam a pender de alturas de vários metros sobre a nossa costa. Rios sim. Mas e pequenos ribeiros? Como será que se comportam, chovendo muito num curto período?

Mas já lá vamos ao prato principal, porque para atingir um objectivo, é preciso fazer um percurso e confesso que para mim, o percurso é uma das grandes componentes deslumbrantes de qualquer viagem.

 

Deixámos a linda Vila de Palmela para trás, com o seu casario branco e o seu imponente castelo. Ao longo da estrada, a chuva caía copiosa, dando lugar a pastos saturados de água com vegetação já verdejante por onde o gado se pastava. Nos céus, voavam baixo alguns casais de cegonhas, apressados em compor os ninhos. O cheiro a terra molhada, invade-nos o espírito e renova-nos a alma. Todo um composto que, a pouco e pouco, nos vai permitindo uma lenta desintoxicação urbana.

 

Atravessámos o Sado e, ao redor, os arrozais plenos de vida, assinalavam a nossa entrada em pleno Alentejo.

De Grândola para Sines, a tempestade parecia não querer dar tréguas com algumas rajadas de vento. O Hugo, sentado lá atrás mais a Mãe, havia acabado de dar uma leitura nos livros para se preparar para os exames que se avizinham. Começou por me dizer que estava assim a chover devido à tempestade que me disse se chamar de David?! Ainda pouco convencido, disse-me também que deveríamos ter ficado por casa e, honestamente, comecei-lhe a dar alguma razão, embora, sem lho dizer …

Para quebrar um pouco o som da chuva e do vento, ligo o rádio, e eis que mesmo a propósito… Thunder Truck (camião da trovoada) dos AC-DC … de imediato ocorre-me a ideia de que efectivamente, muitas vezes aquele deveria ser o apelido escolhido para a nossa caravana, pois a nossa rodinhas, já viu muitas intempéries.

Como primeira paragem, impunha-se uma foto para a Ilha do Pessegueiro.

 

📸 As Mil Fontes de Vila Nova e as Deslumbrantes Cascatas Marítimas.

 

Pelo caminho, a natureza continua a dar espectáculo; desta feita com extensos campos cobertos de um intenso amarelo das azedas. O que me trás à memória a quantidade delas que eu mastigava quando era miúdo no caminho de casa para a escola e lembro-me de que o meu pequeno, também deveria experimentar.

Chegámos a Vila Nova de Milfontes, tendo a chuva dado alguma trégua, mas o dia continuava escuro. Eu sabia que para ainda rentabilizar o dia, tinha que me apressar.

Embora faça muita pesquisa e me apoie nas novas tecnologias de navegação, tenho que admitir que sou um … como dizer … Old School? Habituei-me a ter sempre à mão os meus velhos mapas de estradas, mas há sobretudo algo que eu cultivo; a velha máxima de que “quem tem boca, vai a Roma”. Isto garante-me duas coisas: a primeira é que nada como as pessoas locais para nos falarem das suas terras, hábitos e costumes. A segunda, é que os pormenores mais ricos, por vezes não estão descritos em lugar algum.

Tenho aprendido que independentemente da língua e da cultura de onde quer que estejamos, um sorriso honesto e um aperto de mão, quase sempre quebram barreiras e acabam por dar lugar a boas conversas e amizades.

Foi assim que conhecemos o Tiago e a Carolina do restaurante Porto das Barcas.

Como andávamos meio perdidos, decidi no final da estrada que dá acesso ao porto de pesca da vila, estacionar e entrar para tomar um café.

Expliquei que procurávamos saber da veracidade e da eventual ainda existência de fontes de água doce na vila. E pronto … como que do nada, rapidamente percebi que calhámos com as pessoas certas. A questão deu lugar a um bom tema de conversa e inúmeras sugestões, contadas por quem tem orgulho na sua vila e em receber bem. De forma muito simpática e atenciosa, lá nos foram explicando que realmente, na praia contígua ao restaurante que dá pelo nome de Malhão, realmente existem pequenas fontes. Mas se queríamos ver algo fora do comum, tínhamos que rumar até uma herdade privada já depois da ponte sobre o Mira, à saída da vila. Que para lá chegarmos, teríamos que estar atentos a uma pequena placa com indicação de Zambujeiro Velho, passar sob um aqueduto e que por norma os donos, permitem a visita à herdade.

No final, despedimo-nos com a promessa de ali voltarmos. Sem dúvida!

 

📸 As Mil Fontes de Vila Nova e as Deslumbrantes Cascatas Marítimas.

 

Depois de alguma procura, nada fácil como nos foi descrito, demos com o filho dos proprietários que afavelmente comunicou aos pais a nossa intenção. E lá entrámos à descoberta. Passando pelo casario, o primeiro espectáculo improvável, pelo menos para nós … uma plantação de bananas em pleno Alentejo. Passada a plantação e um passadiço sobre uma ribeira, começámos a ouvir o som de água a correr ou a cair forte.

Após descer uma escadaria de pedra, eis que nos surge o segundo espectáculo improvável … afinal, mais do que uma fonte, a água corria forte, de uma altura de uns bons 7 ou 8 metros … estávamos perante uma magnífica cascata.

A noite chegava e com ela a pouca luz para recolher umas boas fotografias. Mesmo assim, captámos o momento.

 

📸 As Mil Fontes de Vila Nova e as Deslumbrantes Cascatas Marítimas.

 

Estamos de volta a uma das minhas estradas de eleição. Um percurso que sempre me faz regressar ao passado e me trás tantas memórias de um tempo em que os meus “homens” mais velhos nos seguiam para todo o lado. Tantas férias bem passadas e dos melhores momentos da minha vida em que o Hugo ainda estava na barriguita e os meus filhotes deliravam com as nossas viagens. Saudades.

 

📸 As Mil Fontes de Vila Nova e as Deslumbrantes Cascatas Marítimas.

 

Chegámos à aldeia da Zambujeira do Mar, já com noite serrada. Devo dizer que não conhecia a Zambujeira nesta “versão de inverno” e sinceramente, longe do rebuliço dos meses de verão, o que encontrámos foi a fantástica pacatez de uma típica qualquer aldeia alentejana, que no fundo, eu creio que todos procuramos, mas no verão, não o encontramos. Sei que o sossego não foi só por estar mau tempo, porque por lá pernoitámos e de facto, logo pela manhãzinha, o tempo continuou a correr tipicamente devagar, onde as pessoas ganham vida, dando ao seu tempo, dois ou mais dedos de conversa.

Mas ainda regressando um pouco atrás, para vos dizer que o cansaço já estava um pouco instalado, pelo que decidimos não fazer jantar na caravana. Curiosamente, eu que tanto gosto de me deliciar com pratos típicos de cada recanto por onde passo, tive que ceder à vontade da maioria de se comer uma pizza …

Durante a noite, pedi às estrelas que a chuva carregasse forte e que de manhã, tivéssemos uma brecha para que o fenómeno tivesse lugar. E não é que a coisa se deu!? Nunca antes nas nossas dormidas havia ouvido a chuva e o vento a baterem tão forte na caravana. Passei a noite ansioso; não pelo receio da intempérie, mas pelo facto do enorme desejo de se fazer manhã e nos pormos ao caminho imaginando se todos estes meses de espera, iriam resultar no momento certo.

 

São seis e trinta da manhã. Eu acordado a um Domingo àquela hora! A expectativa era muita; depois de uma noite carregada de água, uma fantástica manhã de sol. Tomámos o prometido pequeno-almoço, equipámo-nos para os trilhos que se avizinhavam e seguimos caminho.

Sabia que uma das grandes probabilidades, poderia ocorrer nas grandes falésias da praia dos Alteirinhos, logo do outro lado da Zambujeira. Já lá no alto, saímos apressados. Percorro ansioso os passadiços quando de repente me coloco em duvida se o que estaria a ouvir seria o provável barulho das ondas, ou algo mais. Afasto-me do passadiço tentando perceber e, nem queria acreditar; quase de repente, solto um enorme grito de alegria, corro para eles e chamo-os … lá estava!

Uma fantástica queda de água de uma altura de mais de 20 metros, para a praia. Talvez a melhor forma de descrever a sensação, seja a expressão do Hugo “ … oh Mãe, o Pai parece um miúdo …”.

Já na praia, perdemo-nos por ali de forma prolongada, apreciando aquele raro espectáculo da natureza, numa praia sublime e completamente vazia. Numa extensão quase a perder de vista, éramos, literalmente as únicas pessoas na praia. São momentos como este, em que ganhamos plena consciência de que os paraísos existem e são na terra. Por vezes estão só ali ao virar de uma esquina. Porque também é preciso ver com o coração, aquilo que os olhos não alcançam. Mas desta vez, os olhos reflectiam o que o coração sentia.

 

📸 As Mil Fontes de Vila Nova e as Deslumbrantes Cascatas Marítimas.

 

Trilho fora, em direcção ao Carvalhal, passámos por uma Herdade onde curiosamente o proprietário se dedica à criação de animais de outras paragens; Avestruzes, Lamas, renas, entre outros.

Decidimos parar de novo num café da aldeia para pedir indicações de um restaurante que apesar de bem escondido e aparentemente já famoso; o restaurante da Azenha do Mar, o qual foi buscar o nome, à Aldeia com o mesmo nome. Dizem-me para tomar a direcção da Aldeia e que se situa depois do Brejão após passar a casa da Amália na placa da flor de Margarida. Fico curioso.

Sem me aperceber, estávamos perto da casa da nossa famosa fadista Amália Rodrigues, que nos anos 60 por ali decidiu fazer uma casa de praia, acabando aquela praia por com o tempo receber o nome da mesma. Era sem dúvida um lugar a visitar, pelo que caminho fora, bem desviada da estrada, lá estava a casa cimeira à falésia.

Com o silêncio somente interrompido pela brisa do mar e o chilrear de alguns pássaros, apercebo-me da presença de mais um riacho, desta feita, um daqueles que mesmo durante o verão, ainda deve permanecer com água.

Decidimos investigar. Trilho fora, por entre silvas e caniços, a água adensava-se, cada vez mais no sentido descendente. Após transpormos um “túnel” de caniços e sempre circundando aquela propriedade, avistámos o mar.

Nem queria acreditar. Seria possível?! O riacho corria efectivamente forte para a praia, dando origem a mais uma deslumbrante cascata. A Sofia e o Hugo apressaram-se a descer. Lá em baixo, mais uma vez fomos contemplados com um espectáculo de rara beleza. Esta mais baixa, mas mais larga. Quase indescritível.

Enquanto a contemplávamos, questionei-me … como é que a eterna Diva do fado teria descoberto tal praia com uma cascata, num tempo em que mal se associava o Alentejo ao mar e às suas praias paradisíacas?

Que magnifico retiro de inspiração.

Olhando para o cimo, foi como visualizar a nossa fadista a apreciar e desfrutar de todas aquelas sensações.

Quase como que consigo ouvir o fado – “ … Quatro paredes caiadas, Um cheirinho a alecrim … Mais o sol da primavera, É uma casa portuguesa, com certeza!

Uma portuguesa na altura tão viajada, que soube com o coração, escolher o simples como o mais belo, para ali terminar a sua passagem pela vida.

No final para acabar em grande, tínhamos que ser contemplados com um fantástico arroz de marisco na pequena Aldeia da Azenha do Mar. Sim, porque afinal o Alentejo, também é terra de grandes pescadores.

E agora, partam à descoberta e desliguem-se de tudo, menos dos bons momentos.

 

📸 As Mil Fontes de Vila Nova e as Deslumbrantes Cascatas Marítimas.

As nossas sugestões para organizar a sua aventura. Ao reservar através das nossa ligações, não paga mais por isso. Nós obtemos uma pequena comissão dos nossos afiliados comerciais e dessa forma, conseguimos manter este Blogue. Obrigado.

 


 

4 Comments

  1. Maria Jose diz:

    Adorei , ! Sejam felizes! Obrigado,

  2. Marina Moreira diz:

    Adorei a descrição e fiquei com vontade de viajar e conhecer o lugar ❤️

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *